Skull & Bones | 10 Anos de Desenvolvimento para o Maior Fracasso Pirata de Todos os Tempos

Jogos podem levar anos para ficarem prontos, mas o tempo sozinho não garante que funcionem. Skull & Bones prova que demorar demais também pode estraga
Danilo Medeiros
SKULL & BONES: UMA EXPERIÊNCIA MISERÁVEL DE JOGO
 


Desde os tempos em que me apaixonei pela franquia Monkey Island, sempre tive um carinho especial por qualquer jogo que abordasse o universo dos piratas. Infelizmente, depois de tanto tempo de desenvolvimento e expectativa, a Ubisoft conseguiu destroçar completamente toda a magia que esses jogos conseguem transmitir. Skull & Bones se apresenta como um projeto falido, que decepciona quem procurava uma experiência imersiva na pele de um flibusteiro dos mares. 


Levar dez longos anos para entregar um jogo é, na grande maioria das vezes, sinal claro de que algo correu muito mal por trás das cortinas. Geralmente, produções bem planejadas e estruturadas conseguem sair do papel em prazos bem menores. No caso de Skull & Bones, fica a impressão de que a Ubisoft se perdeu em tantas idas e vindas, reinícios e mudanças de rumo, que o projeto inicial acabou se perdendo pelo caminho. O que nos chega às mãos depois de uma década de desenvolvimento é uma experiência miserável, ao invés do grandioso mundo pirata que parecia ter potencial para conquistar os fãs do gênero. 


Além dos problemas estruturais por trás dos holofotes, o jogo em si também carece de alma e criatividade. As mecânicas e jogabilidade acabam se resumindo em missões enfadonhas de coletar recursos e navegar lentamente por um mapa vazio. Com pouca variedade e diversão ao longo das horas, Skull & Bones se torna rapidamente maçante e sem graça. Não entrega o sentimento de aventura e emoção que um jogo pirata deveria proporcionar. Apesar das expectativas iniciais, os dez anos de produção resultaram em um dos games mais rasos e decepcionantes que já tive o desprazer de experimentar.


O tema dos piratas


Desde minha infância, sempre fui irresistivelmente atraído pelo colorido e misterioso universo dos piratas. Nas histórias que lia e nos games que jogava, vivia intensamente as aventuras de flibusteiros navegando pelos Sete Mares, em busca de tesouros e emoções. Foi nessa época encantada que conheci a lendária franquia Monkey Island, que despertou de vez minha paixão por este tema capaz de proporcionar horas de diversão e entretenimento. Nos jogos, os pirates traziam consigo toda a magia de navegar por mares desconhecidos, abordar navios inimigos, explorar ilhas exóticas e viver perigosas batalhas navais pelo controle dos oceanos. 


Com o passar dos anos, acabei me afastando um pouco deste universo mágico, à medida que outros gêneros também me conquistaram. Mas os piratas nunca deixaram de ter um lugar especial em meu coração, mantendo viva a chama da curiosidade por qualquer produção capaz de mergulhar de novo nestas águas cheias de mistério. Infelizmente, foi justamente esse anseio que me fez experimentar a vergonhosa experiência de Skull & Bones, um "jogo pirata" que destrói completamente toda a magia e diversão que este tema deveria proporcionar. Uma produção que consegue ser ainda pior do que meus piores pesadelos jamais poderiam imaginar..


10 anos em desenvolvimento


Levar uma década para entregar um jogo, em pleno século XXI, é simplesmente inaceitável. Demonstra falhas graves de planejamento, gestão e estrutura por trás dos bastidores. Skull & Bones começou apenas como uma modesta expansão do já aclamado Assassin's Creed Black Flag, focada em explorar ainda mais a complexa mecânica de navios dentro daquele universo pirateado. Poderia ser um acréscimo divertido e menor. Porém, em meio às altas expectativas e expectativas de retorno financeiro, alguém decidiu "bombear" esta ideia inicial para virar um projeto independente de grandes proporções. 


Entretanto, um gigante como a Ubisoft deveria ter experiência suficiente para saber que ampliar desmedidamente uma proposta, sem adequar o escopo, cronograma e equipe, leva a problemas. Diferentes times e direções com visões discrepantes se sucederam neste megaprojeto, adicionando camadas de complexidade ao invés de entregar algo concreto. Após quatro tentativas frustradas de reiniciar o jogo do zero, ainda assim nada de bom saía do forno após anos de investimentos. Um descalabro administrativo e criativo sem precedentes na indústria.


Ao longo de sua interminável gestação, Skull & Bones provavelmente passou por mais mutate que um navio pirata abandonado à própria sorte no mar revolto. Totalmente desvirtuado da inspiração inicial estável, tornou-se uma bagunça complexa demais para se organizar em algo coerente. Durante todo esse tempo, incontáveis outros games de piratas surgiram, foram amados pelo público e já até receberam sequências, enquanto a Ubisoft ainda tentava colocar seus pedaços em ordem. Um exemplo de tudo que NÃO deveria ser feito.


Um jogo "como serviço" que não serve


Nos últimos anos, os chamados "games como serviço" se tornaram uma tendência cada vez mais forte na indústria de games. A proposta desse modelo é manter os jogos "vivos" por muito mais tempo, através de eventos, atualizações constantes e novidades que mantenham os jogadores interessados. No entanto, para que funcione é necessário entregar uma experiência sólida desde o começo, capaz de cativar e reter audiências. Do contrário, o barco afunda em pouco tempo. Esse parece ter sido exatamente o problema de Skull & Bones, que nasceu com estrutura frágil e gameplay raso demais para aguentar o ritmo frenético das expectativas. 


Originalmente, tratava-se apenas de dar continuidade à saga de Black Flag através de uma expansão marítima. Mas acabaram forçando a transformação numa proposta totalmente independente, que precisaria entreter por si só em vez de aproveitar o lastro de uma franquia de sucesso. Porém, transformaram algo que poderia ser sólido num castelo de cartas, sem os alicerces necessários para se firmar como um serviço que realmente valorizasse os jogadores ao longo do tempo. Acabou virando apenas mais uma produção inchada e vazia, que causou desânimo nos poucos que o ousaram experimentar. 


Uma introdução promissora


Nas primeiras minutos de jogo, quando finalmente nos deparamos com o colorido mundo dos piratas, não posso negar que Skull & Bones consegue despertar um certo brilho no olhar, mesmo que de forma passageira. Após uma década de expectativa e desenvolvimento, é impossível não sentir um leve frenesi ao mergulhar naqueles mares azuis pela primeira vez, acompanhado do som de gaivotas e ondas se chocando contra os cascos dos navios. A apresentação inicial está caprichada para cativar, posicionando o jogador no meio de uma épica batalha naval cheia de explosões. 


Por alguns momentos, enquanto meu dedo apertava freneticamente o botão para acertar os canhões inimigos, até que me senti transportado para o século XVII, tomado pela adrenalina de lutar pelo domínio dos mares ao lado de piratas estropiados. No entanto, tratava-se apenas de um fogacho passageiro que desaparece logo em seguida, revelando a mediocridade por trás da fachada. Como um relâmpago em meio à escuridão, aqueles instantes iniciais proporcionam falsa esperança de que algo bom poderia vir pela frente. Logo a frustração tomou conta, ao perceber que a experiência trilharia rumo muito diferente do esperado.



O tedioso ritmo do jogo


Não demora muito para que as garras da entediante mecânica de Skull & Bones comecem a apertar sem piedade. Após a falaciosa introdução, que despertou falsas expectativas, a queda de qualidade é brutal. Onde antes havia ação e adrenalina, resta agora uma agenda enfadonha de missões repetitivas que esticam cada momento o máximo possível. Explorar os mesmos mapas vastos mas vazios para coletar recursos óbvios ou destruir inimigos iterativos exige uma dose excessiva de paciência, que se esvai conforme o relógio avança.


A instigante sensação de viver a vida de um pirata se transforma rapidamente em mais uma checklist maçante de tarefas a cumprir, na tentativa desesperada de entreter os jogadores. Sem criatividade ou surpresas ao longo do caminho, resta apenas navegar por horas em busca de objetivos fúteis, que não acrescentam nada significativo para a experiência. Em poucas horas já se percebe que as mesmíssimas atividades terão de ser repetidas até o fim, em um ciclo sem fim de tédio e frustração. Bem longe da saga empolgante prometida pelos trailers.


Navios desajeitados pioram o problema


Se as chatas mecânicas de jogo já eram ruins o suficiente, os navios totalmente desajeitados de Skull & Bones jogam sal na ferida de forma extremamente frustrante. Controlar embarcações lentas, pesadas e praticamente incontroláveis logo nos primeiros minutos de jogo, quando o personagem está começando do zero, é uma péssima ideia de design que sabota irremediavelmente a experiência desde o início. 


Abordar outros navios ou simplesmente navegar em meio às ondas tornam-se tortuosas provações de paciência, que extrapolam qualquer noção de diversão. Comandar embarcações cambaleantes que mal respondem aos comandos é um suplício, e não contribui de forma alguma para capturar o espírito pirata de aventura e emoção. Pelo contrário, desde os momentos iniciais o jogador fica refém de mecânicas toscas que removem qualquer prazer de explorar os mares. 


Soma-se a isso um mapa vazio e missões enfadonhas, e o caldo entornou de vez. Controlar navios frágeis em games já é um desafio, mas quando mal implementado vira pura agonia de jogar. Em Skull & Bones esta escolha de design foi desastrosa e significou jogar mais lenha na fogueira do desapontamento.


Sem alma ou criatividade


O que mais salta aos olhos em Skull & Bones é a impressionante sensação de vazio e ausência que ronda cada canto do jogo. Não é possível encontrar na trama, nos personagens, nas missões ou em qualquer outro elemento um pingo sequer da alma e criatividade necessárias para transmitir emoções e encantar o público. Tudo parece ter sido implementado de forma fria, apenas para cumprir checklist de funcionalidades sem graça alguma. 


Até as ilhas, que poderiam ser arenas cheias de mistérios a desvendar, surgem apenas como pontos no mapa onde realizar tarefas robotizadas. Nada foi feito para cativar ou entreter, apenas para marcar presença e alegar que o conteúdo existe, ainda que sem alma. Em um jogo sobre piratas, era esperado encontrar lugares exóticos com segredos para desvendar, inimigos carismáticos para enfrentar e uma trama para embarcar em grandes aventuras no mar. Porém, em Skull & Bones tudo é resolvido de forma desinteressada e robótica. Um verdadeiro sacrilégio para um tema tão rico.


10 anos para isto?


Levar uma década inteira para desenvolver um jogo que, no final, é praticamente inacabado é frustrante para qualquer um. Quem esperava com tanta ansiedade pela chegada de Skull & Bones certamente não imaginou ter essa experiência monótona como resultado final. Se foi necessário tanto tempo, ao menos esperava-se algo à altura do esforço, e não uma bagunça cheia de problemas.


Ao longo desses 10 anos, já se lançaram e se tornaram sucessos incontáveis outros games de piratas que supriram com qualidade a sede deixada por Skull & Bones. O que a Ubisoft tinha de tão complexo a ponto de exigir uma década de trabalho? Será que investiram esse tempo apenas para criar mais problemas do que soluções? 


Do começo ao fim, tudo parece ter dado errado de forma gloriosa. As expectativas iniciais foram diminuindo a cada novo adiamento, enquanto competidores lançavam títulos melhores. Após 10 anos, o que sobrou foi decepção. Uma jornada agonizante que poderia ter dado em outro jogo, caso dessem um ponto final há muito tempo atrás. 


Jogos podem levar anos para ficarem prontos, mas o tempo sozinho não garante que funcionem. Skull & Bones prova que demorar demais também pode estragar tudo.


Após tantas expectativas, adiamentos, rumores da indústria e gastos milionários, a conclusão que fica é de absoluto descalabro. Skull & Bones se firmou como um dos maiores fiascos já vistos em um game de tamanha proporção e investimento. Pior que o resultado final em si é saber que poderia ter sido facilmente evitado, caso a obra não tivesse se perdido em tantas mudanças equivocadas de rumo.


Ver um tema tão cativante quanto o universo dos piratas ser destruído dessa forma é decepcionante. Há jogos menores que souberam entregar experiências muito mais ricas e imersivas neste cenário. A Ubisoft entregou apenas uma casca vazia, sem graça ou propósito além de esvaziar os cofres do público. Definitivamente, ficar longe deste naufrágio é a atitude mais sábia a se tomar. 


Resta agora aos interessados pelo tema buscarem opções como Sea of Thieves ou mesmo a expansão pirata de Black Flag, que funcionava melhor e teria sido mais sensato manter como um jogo independente. Quanto a Skull & Bones, seu triste destino parece selado, a não ser que passem por uma reformulação total. Mas depois de 10 anos de tantos erros, talvez seja melhor partir para novos mares e novos projetos.

Danilo Medeiros
Recém formado em R.H e Administrador da Overcentral Instagram: @danilopablolima
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