Pobres Criaturas | Uma Visão Crú Sobre Gênero, Sexualidade e Sociedade em apenas um Filme

Danilo Medeiros



"Pobres Criaturas": Quando o Cinema Transcende os Limites da Sociedade


O aclamado filme "Pobres Criaturas", dirigido por Yorgos Lanthimos, tem causado um verdadeiro frenesi no mundo do cinema. Protagonizado pela talentosa Emma Stone, a obra cinematográfica mergulha em questões profundas sobre a condição humana, desafiando convenções sociais e convidando o espectador a refletir sobre os dogmas culturais que regem nossas vidas.


Ambientado em um cenário distópico repleto de elementos steampunk, a trama gira em torno de uma criatura recém-criada, interpretada por Emma Stone, que experiencia o mundo pela primeira vez. Com uma perspectiva completamente desprovida de preconceitos, a personagem principal questiona incessantemente os rituais, tabus e normas sociais que governam a sociedade.



Através dos olhos inocentes dessa criatura, somos confrontados com a arbitrariedade de muitas das nossas convenções sociais. Por que devemos reprimir nossos desejos e impulsos naturais? Por que fingimos gostar de coisas que, na verdade, não apreciamos? Por que certas partes do corpo são consideradas tabu, enquanto outras são aceitas? Essas são apenas algumas das provocações lançadas pelo filme.


A abordagem ousada de Lanthimos não hesita em explorar temáticas consideradas tabus, como a sexualidade e os relacionamentos humanos. No entanto, longe de ser uma celebração gratuita do sexo, "Pobres Criaturas" utiliza essas cenas para desafiar nossa perspectiva sobre o que é considerado "normal" ou "aceitável" em nossa sociedade.


Através de uma lente antropológica, o filme nos convida a questionar os alicerces dos nossos próprios valores e crenças, convidando-nos a examinar criticamente as construções sociais que moldaram nossas vidas desde o nascimento.




A genialidade de "Pobres Criaturas" reside justamente em sua capacidade de nos transportar para além das fronteiras do convencional, convidando-nos a explorar os confins do desconhecido. Com uma narrativa envolvente e uma estética visual deslumbrante, o filme nos mergulha em um universo paralelo, onde as regras que governam nossa existência são constantemente postas à prova.


Além de sua temática provocadora, a atuação magistral de Emma Stone é digna de todos os elogios. Sua capacidade de retratar a jornada de descoberta e questionamento de sua personagem é verdadeiramente cativante. Cada gesto, cada olhar, cada expressão facial transmite a complexidade emocional de uma criatura que se depara com um mundo repleto de contradições e enigmas.


O roteiro engenhoso e a direção visionária de Lanthimos se complementam de forma harmoniosa, criando uma experiência cinematográfica verdadeiramente singular. Cada cena é cuidadosamente orquestrada, explorando uma variedade de técnicas visuais e narrativas para desafiar nossa percepção e nos fazer refletir sobre nossas próprias vidas.


A trilha sonora, por sua vez, é um elemento crucial na construção da atmosfera peculiar do filme. Composta por melodias desarmônicas e instrumentos aparentemente desafinados, ela reflete a dissonância entre a visão da criatura recém-nascida e as convenções sociais estabelecidas. Essa trilha sonora singular reforça a sensação de estranhamento e deslocamento, amplificando o impacto emocional de cada cena.


Um dos aspectos mais marcantes de "Pobres Criaturas" é a forma como aborda a questão do gênero e das relações de poder. Através dos olhos da criatura recém-nascida, somos confrontados com a realidade de como a sociedade frequentemente trata as mulheres como propriedades ou objetos a serem possuídos. O filme explora de forma contundente os tabus e preconceitos enraizados em torno da sexualidade feminina, desafiando noções preconcebidas sobre o que é considerado "decente" ou "aceitável".


Ao mesmo tempo, "Pobres Criaturas" também nos lembra da universalidade de certas experiências humanas. Independentemente de nossa origem ou background cultural, todos nós enfrentamos questionamentos existenciais semelhantes. A jornada da personagem principal ecoa em nossas próprias vidas, convidando-nos a refletir sobre nossas próprias crenças e valores.


Além de sua profundidade temática, o filme também se destaca por sua abordagem estética única. A direção de arte e a cinematografia criam um mundo visualmente deslumbrante, repleto de detalhes ricos e simbólicos. Cada enquadramento é uma verdadeira obra de arte, cuidadosamente composta para transmitir emoções e provocar reflexões.


É importante ressaltar que, apesar de sua temática madura e cenas ousadas, "Pobres Criaturas" não é um filme gratuito ou exploratório. Pelo contrário, cada elemento é meticulosamente orquestrado para servir a uma narrativa maior, desafiando nossa percepção e expandindo nossa compreensão sobre a condição humana.



O impacto de "Pobres Criaturas" transcende os limites da tela de cinema. O filme se tornou um verdadeiro fenômeno cultural, catalisando discussões acaloradas e reflexões profundas em todo o mundo. Desde sua estreia, inúmeros artigos, ensaios e análises têm sido publicados, explorando as múltiplas camadas de significado presentes na obra.


Acadêmicos, críticos de cinema e espectadores atentos têm se debruçado sobre os simbolismos e metáforas presentes no filme, desvendando novas interpretações e insights a cada revisão. "Pobres Criaturas" se tornou um verdadeiro marco na história do cinema, desafiando convenções e expandindo os limites do que é considerado "aceitável" em termos de narrativa e representação cinematográfica.


Além disso, o filme tem sido aclamado como uma celebração da liberdade de expressão artística e da capacidade do cinema de provocar reflexões profundas sobre os temas mais fundamentais da existência humana. Sua abordagem ousada e sua recusa em se render a tabus ou censuras tem sido amplamente elogiada por aqueles que valorizam a arte como um veículo para o questionamento e a transformação social.


Não é de se surpreender que "Pobres Criaturas" tenha sido indicado a inúmeros prêmios prestigiosos, incluindo 11 indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz para Emma Stone. A aclamação da crítica e do público é um reconhecimento do poder transformador deste filme excepcional.


"Pobres Criaturas" é muito mais do que um mero filme de entretenimento. É uma experiência cinematográfica transcendental que desafia nossas suposições mais arraigadas e nos convida a enxergar o mundo com novos olhos. Seu legado perdurará por muito tempo, inspirando gerações futuras a questionarem as fronteiras do convencional e a abraçarem a liberdade de expressão em todas as suas formas.

Danilo Medeiros
Recém formado em R.H e Administrador da Overcentral Instagram: @danilopablolima
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