Por que Angolanos Não gostam do Influenciador Baptista Miranda?
O youtuber angolano Baptista Miranda tem sido alvo de intensas críticas e ataques por parte de muitos de seus compatriotas nas redes sociais. O fenômeno, que vem ganhando força nos últimos tempos, levanta questões sobre representatividade, estereótipos culturais e as complexidades da comunicação intercultural na era digital.
Tudo começou em 26 de maio de 2022, quando Baptista Miranda participou como convidado no Flow Podcast, um dos programas mais populares do Brasil. A aparição de Miranda, considerado um dos maiores youtubers de Angola, foi inicialmente recebida com entusiasmo por muitos angolanos, que viram nela uma oportunidade de representação positiva do país em uma plataforma internacional.
No entanto, o que deveria ter sido um momento de orgulho nacional rapidamente se transformou em polêmica. Durante a entrevista, quando questionado pelo apresentador Igor sobre hambúrgueres, Miranda respondeu de forma que muitos interpretaram como reforço a estereótipos negativos sobre África. Ele afirmou nunca ter visto um hambúrguer antes, sugerindo que levaria um para Angola para mostrar às pessoas.
Esta declaração, ainda que feita em tom de brincadeira, provocou uma onda de indignação entre muitos angolanos. Para eles, a fala de Miranda alimentava percepções equivocadas sobre o continente africano, como a ideia de que não há acesso a alimentos comuns no Ocidente ou que o desenvolvimento é extremamente limitado.
A controvérsia em torno das declarações de Baptista Miranda no Flow Podcast não se limitou apenas à questão do hambúrguer. Outro momento que gerou forte reação negativa foi quando o youtuber comentou sobre a ausência de restaurantes McDonald's em Angola, afirmando que só os via em filmes.
Esta afirmação, embora factualmente correta - Angola realmente não possui franquias do McDonald's - foi interpretada por muitos como uma forma de retratar o país de maneira excessivamente subdesenvolvida ou carente. Para diversos angolanos, especialmente aqueles que vivem em centros urbanos mais desenvolvidos como Luanda, tais comentários pareciam reforçar estereótipos prejudiciais sobre a nação.
O episódio expôs uma tensão latente entre a realidade vivida por muitos angolanos e a imagem do país frequentemente retratada no exterior. Muitos cidadãos já estavam cansados de ouvir pessoas de fora perpetuarem ideias equivocadas sobre a África, como a noção de que não há internet, que leões são animais de estimação comuns, ou que toda a população vive em extrema pobreza.
A reação ao podcast foi imediata e intensa. As redes sociais de Baptista Miranda foram inundadas com comentários negativos, críticas severas e até mesmo ameaças. Muitos expressaram um sentimento de "vergonha alheia", argumentando que Miranda, como uma figura pública angolana com alcance internacional, deveria ter sido mais cuidadoso em suas declarações.
No entanto, é importante notar que a controvérsia também revelou um problema de interpretação. Enquanto muitos angolanos levaram as declarações de Miranda ao pé da letra, grande parte do público brasileiro e internacional entendeu suas falas como uma forma de humor irônico ou auto-depreciativo. Esta disparidade na recepção das declarações de Miranda ilustra as complexidades da comunicação intercultural na era das redes sociais.