Perseguição a cristãos capítulo 10
Ore para que tenhamos paz na Síria
Nem todas as regiões da Síria foram atingidas da mesma maneira. Diferentes áreas foram devastadas por bombas, mísseis ou explosões. Certo dia, uma bomba atingiu uma escola, crianças ficaram feridas. Uma criança morreu e uma menina da igreja perdeu os dois pés. Esse é um exemplo das coisas que podem acontecer aqui todos os dias. Verão de 2018, há mais de 7 anos, a terrível guerra civil acontece na Síria. Diferentes grupos rebeldes islâmicos lutam, desde março de 2011, contra o governo de Assad e também entre si. Os grupos recebem apoio estrangeiro, com isso, a guerra se tornou uma guerra crescente, que envolve indiretamente outros países. Muitos lugares já foram devastados. Rana serve ao lado de seu marido, o pastor Edward, em uma comunidade na capital síria, Damasco. No meio da guerra civil, eles tentam ajudar todos os afligidos. Os atingidos pela guerra são principalmente a população civil. Milhares foram mortos, milhões estão fugindo. Eles procuram refúgio no exterior ou vagueiam pelo país. Muitos cristãos também foram atingidos. Eles não sofrem somente com a guerra, mas também são alvo de ataques islâmicos. Algumas áreas já estão sob controle islâmico. Nossas raízes cristãs na Síria remontam ao tempo de Jesus. Nós vivíamos em paz com outros grupos e outras religiões. Nunca nos sentimos isolados, de uma certa forma, vivíamos livres. Poderíamos realizar cultos, visitar a comunidade, construir igrejas, realizar algumas festas e eventos. Morávamos em paz juntos e cooperávamos uns com os outros; nós trabalhávamos juntos e estávamos juntos na escola. Nunca nos sentimos como em outros países, onde os cristãos são chamados de infiéis que não acreditam em um único Deus. Nunca nos sentimos assim na Síria. A religião não era um problema. Desde o começo da guerra, não tivemos mais uma vida normal. Por exemplo, não podemos mais planejar uma rotina. Alguns dias são piores do que os outros. Às vezes, não ouvimos nada por uns dois dias. E então vêm outros dias muito ruins. Nós temos medo de sair de casa. Desde o começo da guerra não saímos mais de casa a partir de cinco ou seis horas da tarde. É muito perigoso. Nós tentamos lidar com a situação. Nos dias ruins, com muitas granadas e explosões, nós ficamos em casa. Telefonamos uns para os outros, vemos como está a situação e cancelamos todos os compromissos. Isso é muito assustador, realmente muito assustador. Quando precisamos sair para comprar legumes ou pão, pensamos que talvez nunca mais voltaremos. Porque podemos ser atingidos, por acaso, por uma bomba ou um míssil. Não podemos ficar o dia inteiro, nem por muito tempo, em casa. Mas se sairmos estamos em perigo. Nós saímos durante o dia, quando precisamos resolver alguma coisa. Mas é muito, muito perigoso sair nas ruas. Hoje, a depressão é um grande problema, especialmente para mulheres. Eu mesma sofri disso por muito tempo. Por isso, eu consigo me compadecer das mulheres que chegam arrasadas e com medo em nossa igreja. Elas precisam de apoio. Eu sofri por muito tempo com isso. Mas Deus não queria que eu ficasse totalmente para baixo. Ele me recolocou na direção certa através do apoio de outras mulheres, através do meu marido e também da minha igreja. Ele me fez lembrar disso: mesmo que precisemos passar pelo vale da sombra da morte, ele está conosco. Ele nunca nos abandona, e não se esquece de nós. Então, nós demos glória a Deus e ficamos em nosso país. Em troca disso, ele é nosso protetor, nosso salvador, aquele que cuida de nós a cada dia. Assim, nós nos encorajamos uns aos outros. Nós nos lembramos de que em todo tempo Jesus esteve conosco; e também agora, nesses tempos realmente sombrios, ele está conosco. Um dos dias mais difíceis para mim foi quando fomos ao enterro de uma conhecida nossa. Um pouco antes, havia acontecido o enterro de um vizinho, que também tinha sido morto por uma bomba. Eu olhei para o meu marido e disse: “Você se lembra? Antes íamos a casamentos e eventos alegres na igreja, mas hoje as igrejas, infelizmente, estão sendo usadas para funerais”. Isso foi difícil! Ainda mais, porque naquela semana aquela menina tinha perdido os pés, antes do enterro nós a tínhamos visitado no hospital. Por outro lado, vemos como a igreja está cheia. As pessoas vêm de longe, em pequenos ônibus que nós oferecemos. Elas viajam mais de uma hora, só para vir à igreja. Em meio a bombas e explosões, elas insistem em vir. Um dia eu disse ao Edward: “Sabe, hoje está realmente ruim. Tirando você e eu, hoje ninguém estará na igreja”. Nós fomos para lá e eu não acreditei no que os meus olhos viram: a igreja estava cheia! Quem se atreveria a sair de casa às cinco da tarde só para ir a um culto normal? Eu não me atreveria. Mas essas pessoas precisam, realmente, do encorajamento da palavra de Deus e do encorajamento de outras pessoas, por isso elas vêm. E a igreja está lotada e eles vão embora somente à noite. E Deus está trabalhando em seus corações. Nós apoiamos 1.500 famílias somente em Damasco e mais 2.000 na região de Homs. Falamos aos membros da nossa equipe que eles não devem fazer distinção entre cristãos e muçulmanos. Naturalmente que mais cristãos do que muçulmanos vêm à igreja em busca de ajuda. Mas nós não negamos ajuda a nenhum muçulmano que nos peça. Nós distribuímos pacotes de alimentos para famílias, cobertores e colchões para o inverno. Cobertores elétricos para o frio e lençóis para o verão. Jaquetas e material escolar para as crianças que podem ir à escola. Nós tentamos fazer o nosso melhor para ajudar. Nós agradecemos às Portas Abertas por seu apoio, pois essa grande contribuição nos permite alcançar muitas famílias e ajudá-las. Antes da guerra, nós já sentíamos de ficar na Síria. Estava em nossos corações a vontade de servir nosso povo. Não é só porque estamos em perigo que vamos embora. Nós sabemos que nossa comunidade precisa de encorajamento. Por isso, tentamos ficar firmes e para isso Jesus nos dá a sua paz. Às vezes nos perguntamos: “Por que ficamos?” Na verdade, não temos nenhuma razão para isso. Nossos filhos vivem no exterior, e às vezes insistem para que deixemos o país. Mas nós cremos que Deus nos preparou para esse tempo e que temos de estar aqui para ajudar o nosso povo. Não é tanto sobre o que Jesus faria. Nós simplesmente sentimos que é nosso chamado ficar, encorajar as pessoas, apoiar as pessoas e ajudar todas essas famílias necessitadas. Há tantas famílias despedaçadas que buscam por amor de verdade. Esse é o tempo para a igreja alcançar-las. Normalmente, as pessoas demonstram gratidão pelo que recebem da igreja. E isso significa muito para nós. Isso significa que a mensagem do amor as alcançou e que elas sentem diferença. Então, elas questionam sua própria fé: “Como pode ser que esses cristãos, que são mortos pelo nosso povo, depois ainda nos ajudam e nos dão suporte?” Sim, esse é nosso chamado e a nossa mensagem de amor para eles. Nós ouvimos tantas histórias tristes. Nós tentamos fazer o que podemos, nós nos compadecemos deles, nós estamos no mesmo barco. Nós ouvimos, ajudamos, compreendemos, e, no final, a situação continua sendo muito difícil. Mais da metade da nossa comunidade deixou o país. Muitas famílias se negam a ir, mesmo podendo. As pessoas da nossa comunidade sofrem exatamente como todas as outras. Elas perderam seu trabalho e sua renda, temem por suas próprias vidas. É claro que nós temos medo de que os grupos islâmicos invadam nossa região. Isso é um grande problema para nós e temos medo. É claro que os muçulmanos não são todos iguais. Nós temos que diferenciar os muçulmanos normais dos jihadistas. Muçulmanos normais não aceitam os jihadistas, são totalmente contra eles. Muitas famílias de refugiados nos contam como foram ameaçadas pelos radicais. Elas precisaram deixar tudo e procurar lugares mais seguros. Alguns não tiveram sorte e foram mortos. Nós ouvimos muitas histórias de pessoas da região de Homs, de que os seus filhos, suas filhas, pai ou mãe foram mortos diante dos seus olhos. Isso é a lei deles e a crença deles, eles não têm problemas em matar cristãos. Eles creem que estão fazendo um favor a Deus, é muito difícil conviver em um mesmo lugar com essas pessoas. Esses jihadistas são totalmente novos em nosso país. Nós nunca tínhamos ouvido falar deles antes. Eles vêm do mundo todo, talvez de países radicais, para lutar na Síria. E isso é a maior ameaça para os cristãos. É claro que nenhum cristão vai morar em uma área controlada por jihadistas, pois eles têm de seguir a lei islâmica, a sharia. Cristãos, praticamente, não conseguem viver nessas áreas, eles precisam fugir, ou são mortos, ou precisam dar dinheiro para ficar. Nenhum cristão consegue viver sob o poder dos jihadistas. Eles precisam abandonar sua casa e seus pertences, e fugir para salvar sua vida. Em Damasco nós ainda estamos a salvo dos jihadistas, mas eles estão em Raqqa, Alepo e em partes de Homs. Cristãos deixam tudo para trás e fogem sem nada. Dentro de um dia, já estão muito longe daquela área. Mesmo muçulmanos normais, não ficam sob a ameaça dos radicais. Isso é realmente nossa maior preocupação. Nós oramos para que Deus não permita que eles invadam mais territórios e que se aproximem de Damasco. Nenhum cristão sobreviveria. É totalmente amedrontador imaginar essas pessoas tomando o controle de Damasco. Nós nunca vivemos algo assim. Nós ouvimos sobre esses grupos islâmicos no Afeganistão, vimos no Iraque o que eles fazem, e também em outros países. Seria realmente muito difícil para nós se os jihadistas tomassem o poder e o controle sobre o país. Nós não entendemos por que Deus permitiu essa guerra. Nunca entenderemos os assassinatos e o sofrimento pelos quais passamos. Mas nós confiamos em Deus e em seu poder, no seu propósito divino. Todos os dias estamos em perigo e tudo pode acontecer. Mas mesmo nessa triste situação, sentimos paz interior. Nós estamos aqui por uma razão divina. Nós sabemos que Deus tem um plano divino para a Síria. Talvez nós não entendamos tudo, mas confiamos que ele está preparando o país, os cristãos e a igreja para terem um papel mais importante. Talvez ele esteja preparando a igreja para se introduzir mais na sociedade. Há pessoas que nunca haviam ouvido sobre Jesus antes, mas hoje vão à igreja. Elas fazem perguntas. Elas querem saber mais sobre Deus. Nós não entendemos tudo, mas sabemos que nosso Deus sempre controla tudo. Nós só precisamos estar lá, colocar nossas mãos nas mãos de Jesus e passar por esses momentos difíceis com ele. Eu sei que Deus está conosco e que nunca nos abandona. Nós só precisamos confiar totalmente nele. Por favor, orem para que nossa igreja persista sob tamanha pressão. Pelos nossos líderes, para que eles fiquem no país e cuidem das pessoas necessitadas. Orem pessoalmente por nós, para que continuemos sentindo essa paz interior, pelos poderosos, para que eles acabem com essa guerra. Orem pelas crianças, pelas mulheres e pelas famílias que perderam entes queridos, para que elas recebam apoio e sintam o amor de Cristo. Pedimos por essas orações. Eu gostaria que soubessem que a sua oração realmente toca nossos corações. Nós sentimos seu apoio e suas orações. Somos profundamente gratos por isso. Sentimos que pertencemos a um mesmo corpo. Quando você diz que agora por nós, realmente sinto isso. Nós agradecemos que continuemos a nos compadecer, nos apoiemos e orar por nós. É isso que nós mais precisamos no momento. O apóstolo Paulo fala: Esse testemunho representa a história de milhões de cristãos ao redor do mundo que são perseguidos por causa da fé em Jesus Cristo.