O Easy Mode é realmente Necessário nos Jogos? A dificuldade Extrema pode Afetar Certos Públicos

Danilo Medeiros


Os jogos atuais realmente estão ficando mais fáceis, ou é apenas uma percepção nossa como jogadores? Essa é uma questão que tem sido amplamente discutida nos últimos anos, dividindo opiniões entre críticos especializados e jogadores casuais.


Quando éramos crianças, muitos de nós enfrentamos desafios significativos em jogos clássicos, como as infames missões do trem e do Zero em GTA: San Andreas, ou a frustração de repetir incessantemente a missão do Drive Thru. Jogos de survival horror como Resident Evil também causavam tensão e medo, com encontros marcantes como o primeiro embate com o terrível Licker em Resident Evil 2 Remake.


A dificuldade dos jogos é algo subjetivo e pode variar de acordo com o gênero, a atmosfera e as mecânicas empregadas. Alguns jogos, como Outlast e Amnesia, nos colocam em uma posição de vulnerabilidade, sem meios de defesa, criando um senso de medo e tensão constante. Por outro lado, os Souls-like oferecem um desafio gratificante, com cada morte nos aproximando da vitória sobre os poderosos chefes.


No passado, parecia haver uma mentalidade diferente em relação à dificuldade dos jogos. Antigamente, quando enfrentávamos obstáculos, a solução era persistir, dormir e tentar novamente no dia seguinte, sem desistir. Jogos como Devil May Cry e God of War chegavam a zombar de nós quando falhávamos, oferecendo a opção de mudar para o modo fácil, o que apenas nos motivava a continuar tentando no nível de dificuldade original.


Outra questão importante é a acessibilidade dos jogos. Muitos de nós aprendemos inglês jogando, mas também enfrentamos desafios por não compreender completamente os objetivos ou a narrativa em jogos com pouca ou nenhuma tradução para nossa língua nativa. No entanto, essas barreiras linguísticas não impediam nossa imersão e diversão com os jogos.


Hoje em dia, parece haver uma tendência em tornar os jogos mais "mastigados", com dicas constantes, bússolas indicando objetivos e tutoriais detalhados. Embora essa abordagem facilite a experiência para muitos jogadores, alguns sentem que a magia e a emoção de descobrir as mecânicas por conta própria estão se perdendo.


Ao analisar jogos como The Last of Us, podemos ver como a dificuldade pode ser ajustada para criar desafios significativos. No modo mais alto, certas ferramentas úteis eram descartadas, exigindo estratégias cuidadosas, gerenciamento de recursos e conhecimento dos padrões dos inimigos. Momentos como o hospital e a cidade nevada com Ellie se tornavam verdadeiros testes de habilidade e planejamento.


O design de níveis também desempenha um papel crucial na dificuldade dos jogos. Cenários bem projetados podem criar tensão, surpresas e desafios únicos, enquanto ambientes mal executados podem arruinar a experiência. Jogos como Hellblade mostram como a interação com o ambiente pode se tornar uma variante de gameplay, adicionando camadas de complexidade.


Algumas desenvolvedoras, como Rockstar e From Software, abraçam a ideia de jogos únicos, sem facilidades ou dificuldades excessivas, preservando a experiência pretendida para todos os jogadores. Imaginar Red Dead Redemption 2 com inimigos invencíveis ou Dark Souls com um protagonista invencível seria uma contradição à visão dos criadores.



No final das contas, a satisfação de superar puzzles desafiadores, como os quebra-cabeças de xadrez em Resident Evil 2 Remake ou os enigmas de The Room, é algo que poucos jogos modernos oferecem. A sensação de conquista e realização após dedicação e esforço é algo que deveria ser valorizado.


Embora haja argumentos válidos de ambos os lados, é inegável que a indústria de jogos está seguindo uma tendência de tornar as experiências mais acessíveis e "fáceis". Enquanto isso pode atrair um público mais amplo, também corre o risco de perder a magia e a emoção de descobrir mecanismos e superar desafios por conta própria, como acontecia nos jogos clássicos.


A chave pode estar em encontrar um equilíbrio, oferecendo opções de dificuldade que agradem tanto os jogadores mais casuais quanto os que buscam desafios verdadeiros. Afinal, a diversão e a satisfação devem ser o objetivo principal de qualquer jogo, independentemente do nível de dificuldade escolhido.


Enquanto a discussão sobre a dificuldade nos jogos continua, é importante lembrar que a indústria evoluiu muito ao longo dos anos. Nos dias atuais, os desenvolvedores têm a capacidade de criar experiências mais acessíveis e inclusivas, sem necessariamente comprometer o desafio para aqueles que o desejam.


Uma solução amplamente adotada é a inclusão de diferentes níveis de dificuldade, permitindo que cada jogador escolha o nível de desafio que melhor se adequa às suas habilidades e preferências. Dessa forma, jogadores menos experientes podem desfrutar da história e da experiência geral sem se sentirem sobrecarregados, enquanto os veteranos podem optar por um nível de dificuldade mais exigente.


Além disso, muitos jogos modernos oferecem a opção de ajustar a dificuldade em tempo real, sem a necessidade de reiniciar a jornada. Essa abordagem permite que os jogadores experimentem diferentes níveis de desafio à medida que progridem, adaptando-se às suas necessidades e habilidades em constante evolução.


Outra tendência crescente é a inclusão de modos de assistência ou acessibilidade, que fornecem opções personalizáveis para jogadores com necessidades especiais ou limitações físicas. Essas opções podem variar desde a remapeamento de controles até a introdução de recursos visuais ou auditivos aprimorados, garantindo que todos possam desfrutar da experiência de jogo da melhor maneira possível.


No entanto, é importante ressaltar que a dificuldade não é o único fator que define a qualidade de um jogo. Uma narrativa envolvente, jogabilidade sólida, design de níveis memorável e uma apresentação visual e sonora cativante são igualmente importantes para criar uma experiência memorável.


Jogos como God of War (2018) e Horizon Zero Dawn demonstram como é possível equilibrar desafio e acessibilidade. Ambos oferecem uma gama de opções de dificuldade, desde modos mais fáceis para aqueles que desejam se concentrar na história, até níveis de dificuldade extremos que desafiam até os jogadores mais habilidosos.


Da mesma forma, a série Souls de From Software é conhecida por seu nível de dificuldade desafiador, mas também oferece opções para aqueles que desejam uma experiência mais acessível, como a possibilidade de invocar outros jogadores para assistência em batalhas contra chefes.


No final, a chave está em oferecer escolhas aos jogadores, permitindo que cada um encontre o equilíbrio perfeito entre desafio e diversão de acordo com suas preferências e habilidades individuais. A indústria de jogos tem evoluído para abranger uma ampla gama de públicos, e a capacidade de personalizar a experiência é fundamental para garantir que todos possam desfrutar dos jogos de maneira significativa.

Danilo Medeiros
Recém formado em R.H e Administrador da Overcentral Instagram: @danilopablolima
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